Equador

Tavares, Miguel Sousa T231 1952-

Equador - 1ª - São Paulo Companhia das Letras 2011

"As ilhas são lugares de solidão e nunca isso é tão nítido como quando partem os que apenas vieram de passagem e ficam no cais, a despedir-se, os que vão permanecer. Na hora da despedida, é quase sempre mais triste ficar que partir e, numa ilha, isso marca uma diferença fundamental, como se houvesse duas espécies de seres humanos: os que vivem na ilha e os que chegam e partem." Em que medida uma história que se passa no começo do século XX, numa ilha minúscula, perdida no meio da África, interessa a nós, leitores atuais? A princípio, o drama do intelectual português Luis Bernardo Valença, convidado pelo rei d. Carlos a governar S. Tomé e Príncipe, parece em nada se relacionar conosco. Mas a trama de Equador, romance premiado na Itália e em Portugal e um dos maiores best-sellers da literatura portuguesa dos últimos anos, envolve desde elementos políticos e históricos a outros sensoriais e sensuais que em muitos aspectos nos dizem respeito até hoje. No cenário do livro, minuciosamente caracterizado, as relações humanas revelam-se sempre ambíguas. E é com a ambiguidade que Luís Bernardo se depara ao chegar às ilhas de S. Tomé e Príncipe: mais de um século depois de abolida a escravidão, assumir o papel de governador da colônia seria, para ele, uma maneira de contribuir para que o efetivo trabalho livre predominasse. Mas o limiar entre trabalho escravo e assalariado é tênue, e tudo se revela muito mais complexo na prática do que em pequenas colônias da África, um homem com um contratro assinado continuava a receber chicotadas de quem não sabia se deveria tratar como "senhor" ou como "patrão". É com essa realidade que Luis Bernardo tem de lidar ao tomar decisões. Ao aceitar o convite do rei, mergulha num universo completamente alheio ao que estava acostumado, em Lisboa. E percebe que apenas sua inteligência não será suficiente para dar conta do que o espera na ilha, onde chegam apenas dois barcos por mês e a população não conhece os direitos humanos já há muito tempo em voga na Europa. Quando um casal de ingleses chega a S. Tomé para verificar se de fato foi abolido o trabalho escravo ali, tudo se torna ainda mais nebuloso. O narrador constrói um jogo sutil entre o português colonizador, o inglês capitalista e o negro explorado. A questão política, mais e mais intrincada ao longo do romance, não se separa das paixões, que interferem e mesmo determinam os jogos de poder presentes nesta admirável narrativa.

978-85-359-1898-4


Romance Histórico--Literatura Portuguesa--São Tomé e Príncipe--XIX

928

82-94